sábado, 30 de janeiro de 2016

Viagem - Enoturismo em Mendoza

Já relatei a experiência em algumas vinícolas chilenas (Viagem - Enoturismo em Santiago) e agora vou mostrar um pouco da nossa viagem realizada à bela cidade de Mendoza na Argentina, onde estivemos de 05/12 a 09/12 de 2014.

  Viagem à Mendoza


  A cidade de Mendoza é muito bem cuidada e tem aquele ar de cidade de interior. Muitas praças, restaurantes e comércio bem ativo. A comunidade local entende que é o seu principal produto  e faz referências ao vinho por toda a parte, o que se percebe em todos os lugares, sempre com alguma menção a ele ou o próprio sendo oferecido. Localizada aos pés das Cordilheiras dos Andes, a cidade está próxima à mística montanha do Aconcágua e é mais próxima à Santiago que à Buenos Aires.

  As principais regiões vinícolas no entorno de Mendoza, onde estão localizadas a maioria de suas "bodegas", como se chamam na Argentina as vinícolas, são basicamente:

 Lujan de Cuyo, a 25 km da cidade, altitude de 800 a 1200 metros, temperatura média de 15ºC, e forte amplitude térmica, possui terrenos planos, arenosos, solo de cascalho desintegrado das cordilheiras, boa drenagem , riqueza mineral e pobreza orgânica. É onde há o maior número de vinícolas e é considerado o reino do malbec, mas também se adaptam bem, principalmente, o cabernet sauvignon, o cabernet franc, o shiraz e a chardonay e onde estão alguns ícones do vinho argentino, como a Catena Zapata, a Achaval Ferrer, a Pulenta Estate, a Norton e muitas outras.

 Maipu, zona contígua à Lujan de Cuyo, também tem temperatura média de cerca de 15ºC, mas no calor pode chegar a 40ºC e no inverno - 9ºC, localizada a 20 km da cidade, com altitudes entre 650 e 1.000 metros, solos aluviais argilosos com seixos rolados, rico em minerais. A ocorrência de terras vermelhas é considerada um trunfo para os grandes cabernets sauvignons da região. É onde estão as mais antigas e tradicionais vinícolas como a gigante Trapiche, a Lopez, a Família Zuccardi e outras. Produz excelentes azeites, considerados um dos melhores do país.

 Vale de Uco, a 100 km da cidade, a 1500 metros do nível do mar, temperatura média de 14º C, com forte amplitude térmica, solos permeáveis, pedregosos, com seixos rolados, areia grossa e limo de baixa fertilidade e clima muito seco. Muitas vezes comparada ao Vale do Napa na Califórnia. Foi mais recentemente ocupada pelas uvas e está desenvolvendo suas áreas nas últimas 2 décadas para seu cultivo, sendo consideradas de excepcional qualidade, produzindo vinhos com mais mineralidade. Além do malbec com características distintas, as cepas que bem se adaptam ao Vale são cabernet sauvignon, sauvignon blanc, chardonay, torrontes, bonarda, pinot noir, entre outras. Lá estão a Salentein, Clos de los Siete, Andaluna e outras. Infelizmente não visitei nenhuma vinícola desta região, ficando para outra oportunidade conhecê-la.

  Pré viagem:

  Antes das visitas, já tivemos a informação de que em Mendoza, é de fundamental importância reservar, desde os restaurantes da cidade e mais ainda a visita às vinícolas, sob o risco de não conseguir conhecer muita coisa. Além do que, como sempre vamos aproveitar para tomar os vinhos oferecidos, dirigir não é uma idéia viável, assim pesquisamos os serviços privados de um "remi", que consiste em uma pessoa que conhece a localização das vinícolas e vai levar e trazer você em seu veículo.
  Nesta pesquisa conhecemos e contratamos o Leo da Vendimia Wine Tour, que nos ajudou em parte do planejamento, com dicas e foi muito profissional e dedicado em todos os passeios que realizamos, melhorando e muito nossa experiência na exploração da região. Se necessário ele faz todas as reservas previamente. Quando voltar para a cidade, seguramente vou buscar seus serviços e o recomendo a quem necessitar.



  Vinícolas visitadas:


  Bodega Achaval Ferrer

  Esta excepcional vinícola localizada em Lujan de Cuyo, produz alguns dos mais reconhecidos vinhos argentinos modernos. Localizada em uma belíssima região, com vistas para as montanhas nevadas das Cordilheiras.




  Já contamos um pouco de sua história quando degustamos o Achaval Ferrer Quimera em julho de 2014. Foi fundada em 1998 por um grupo de argentinos e italianos, incluindo o renomado winemaker Roberto Cipresso, que até hoje traz sua experiência oriunda da Toscana na produção de Brunelos di Montalcino, para gerar grandes vinhos nesta vinícola. Trouxe uma filosofia inovadora na época, garantindo um cuidado extremo em todas as etapas do processo, produzindo vinhos de altíssima gama e de baixíssimo rendimento. Como exemplo, de toda a floração apenas 10% das uvas são aproveitadas, descartando-se o restante desde o aparecimento dos primeiros cachinhos, trazendo assim, uma forte concentração nas uvas preservadas.

  Entre seus principais produtos, estão três vinhos varietais malbec, que retratam o terroir de diferentes regiões de Mendoza, sendo Altamira, Alta Vista e Mirador. Ao provar cada um deles percebe-se claramente como os vinhos que tecnicamente se produzem de maneiras semelhantes com as mesmas cepas, expressam características particulares de sua região.

  Também produz o Quimera, que é elaborado a partir da mescla de uvas produzidas em diferentes regiões, destacando  as cepas malbec, merlot, cabernet sauvignon e cabernet franc, para equilibrar seu resultado, que também é muito bom. Também produz um bom varietal malbec mais simples. Mais recentemente produz também um cosecha tardia e o Temporiz, que eles consideram excepcional, além de uma pequena produção de ótimos azeites.


  Na vinícola, não há uma visita detalhada do processo de fabricação. Fomos diretamente à degustação, onde não provamos o varietal de entrada e a degustação já iniciou pelo Quimera 2011 que mostrou um aroma muito agradável e aveludado a frutas negras e azeitonas maduras. Na boca um sabor intenso, forte, harmônico, acidez bem presente, pouco tânico, azeitonado, muito corpo. Vinho para 92 pontos. Excelente.

  Depois fomos à adega e tivemos o prazer de provar alguns de seus ícones no barril, o que surpreendeu a todos e foi bastante interessante.


  O primeiro foi o Achaval Ferrer Altamira, 2013, que já estava há 10 meses no barril, ou seja, ainda faltará um pouco mais de tempo para atingir o seu ponto de venda, pois o tempo total de barril estimado são 14 meses, mas já pudemos experimentar do que se tratava o vinho.

  Aroma a frutas vermelhas intenso, levemente terroso e azeitonas negras presentes. Sabor intenso, amadeirado, boa acidez, produz muita salivação, seguramente será um grande vinho, creio que para 93 pontos.



  Depois provamos no barril o Achaval Ferrer Mirador, 2013 com os mesmos 4 meses faltantes do anterior. Aroma aveludado e intenso a frutas vermelhas. Sabor mais picante, um pouco mais seco, saborosíssimo, levemente terroso. Deixou a curiosidade de como ficará ao final do processo... Penso que certamente o vinho chegará a 96 ou 97 pontos  pontos. Excepcional.


 Por último retornamos à sala de degustação para provar a garrafa do Achaval Ferrer Bella Vista  2012. Aroma muito frutado e muito terroso. O sabor é também terroso, intenso, frutado, com destaque a amoras e mirtilo. Um vinho fantástico, complexo, muito harmonioso. Vinho para 95 pontos.

  Foi sem dúvidas uma experiência muito gratificante, com grandes vinhos degustados.


  Bodega Pulenta Estate

  Em 1902, o imigrante italiano Angelo Pulenta chegou à Argentina e anos depois iniciou o plantio das primeiras uvas. Nascia a Trapiche, que hoje é uma das maiores vinícolas do mundo. Em 1997 Antonio Pulenta, da terceira geração da família, vende a maioria das ações da gigante vinícola, quando os filhos Eduardo (licenciado em Enologia) e Hugo, resolvem criar a própria vinícola. Em 2002 criam a Pulenta Estate, em Lujan de Cuyo. Hoje também possuem vinhedos no Vale do Uco. A filosofia é produzir uma série limitada de grandes vinhos.



  Um dos donos, Hugo, tem uma representação da Porsche no país e há uma curiosa linha de vinhos comemorativa com a marca alemã. Na adega há 2 motores de porshes e 1 de Ferrari à mostra, graças à ligação dos proprietários com o negócio.


  Nesta vinícola fizemos uma agradável visita a suas instalações. A pessoa que nos guia em toda a vinícola foi muito agradável,  deixando-nos muito à vontade e multiplicou certamente a satisfação da visita. 



  Passamos pela área de produção, onde se faz a fermentação e em uma parte onde estão acondicionados os barris. As instalações são belíssimas e o ambiente da adega é quase meditativo.



    Após conhecermos a impressionante estrutura fomos à sala de degustação, onde, antes dos vinhos, fomos estimulados a fechar os olhos para sentir os aromas em algumas taças com ervas, frutas, castanhas e especiarias, para "brincar" de aguçar o sentido, buscando identificar estes aromas. Foi bastante divertido e interessante.

  

  Os vinhos foram degustados a seguir, começando com o Pulenta Estate La Flor, Sauvignon Blanc, 2011. No nariz era perceptível abacaxi e maracujá. Muito aromático. No paladar, sabor delicado, refrescante, levemente amargo. Vinho para 88 pontos.



 O  Pulenta Estate Gran Malbec, 2011 veio a seguir e mostrou aroma balsâmico, tostado, frutado. Sabor a frutas negras com bastante corpo, amadeirado, muito bom vinho. Vinho para 90 ou 91 pontos.



  A seguir nos foi oferecido o Pulenta Estate Cabernet Franc, 2011. Eu já tinha ouvido falar deste vinho e estava muito curioso. Fiquei impressionado. O vinho é um dos mais interessantes de toda a viagem. Aroma e sabor a pimentão grelhado muito característico e notas de café. Sabor muito especial, levemente adocicado, intenso, harmonioso, excelente. Um vinho que  eu defino como divertido, porque estimula os sentidos e a descobrir suas nuances. Complexo. Vinho para 94 ou 95 pontos.



  Por último provamos o Pulenta Estate Gran Corte, 2011. Aroma aveludado, frutas vermelhas, nozes, ameixa fresca. Encorpado, harmônico, macio, muito redondo e agradável. Vinho muito bom para 92 ou 93 pontos.


  A visita à Pulenta Estate foi agradabilíssima e nos deixou marcados pela beleza da vinícola, pela atenção e pelos excelentes vinhos, especialmente o Gran Cabernet Franc. Eu voltaria seguramente em uma nova oportunidade.


  Bodega Ruca Malen
  O entorno e a sede da Vinícola são muito bem cuidados e impressiona pela beleza. A vinícola nasceu em 1998 quando Jean Pierre Thibaud, que há 10 anos presidia a Chandon de Mendoza e Jacques Louis de Montalembert que tinha tradição vitivinícola em Borgonha na França se reuniram para montar este projeto.

  Foi uma das pioneiras no turismo de Bodegas em Mendoza e seu almoço harmonizado com seu menu degustação é extremamente concorrido, sendo um dos mais renomados da região. Em 2014 ganhou o prêmio da "Global Best of the Wine Tourist" como um dos melhores restaurante em vinícola do mundo, concedendo a ela medalha de ouro.


  Como já estávamos na hora do almoço, assim que chegamos, fomos experimentar a tão comentada cozinha do seu belo restaurante.

  O almoço de 5 passos fazia referência aos 5 elementos vitivinícolas de Mendoza, sendo:

  O primeiro aperitivo (elemento água)  trata-se de uma muito interessante granita com ervas frescas, cebola, maçã e quinoa servidas sobre um bloco de gelo de manancial da cordilheira, apoiado sobre uma pedra negra.   O resultado foi uma explosão de frescor, com destaque para a acidez e o sabor intenso dos ingredientes, complementada pela presença mais rígida e terrosa da quinoa e o toque herbal da erva doce. Muito bom. A harmonização foi com o Yauquen Chardonay 2013, com uvas do Vale do Uco, muito aromático e refrescante, embora meio aguado, harmonizou perfeitamente com o prato.
  
  

  A seguir o segundo aperitivo foi servido (elemento Cordilheira dos Andes) que se tratava de uns bolinhos  de uma espécie de beterraba, com queijo de cabra desfiado e um molho de vinagre balsâmico e passas, servidos sobre uma madeira rústica. A textura dos bolinhos de beterraba era diferente e um pouco estranha, meio esponjosa, deu o sabor terroso, combinado com o sabor lácteo do queijo e o agridoce do molho, que em conjunto,  complementaram-se bem. O vinho foi o Yauquen malbec- cabernet sauvignon , 2013, que a princípio me pareceu encorpado demais para o prato, mas não desagradou e no final não desequilibrou, como eu pensei que poderia ocorrer.


  

  Depois foi servida a entrada (elemento solo) que era uma mistura de cogumelos, creme de queijo defumado, azeitonas secas, cenouras, cebolas e batatas doces crocantes, salpicado por pequenos grãos de bacon vegetal super tostado. Este prato realmente fez juz à sua proposta. Absolutamente terroso, crocante, intenso e muito saboroso e agradável. O vinho era o Ruca Malen cabernet sauvignon que teve uma harmonização perfeita com o prato. Grande prato, com o único ponto negativo destas manchas de gordura no papel que eram dispensáveis, fora isso um prato genial.


  O prato principal representando o elemento solmanteve o elevado padrão de toda a refeição, um medalhão de filé mignon grelhado fantástico, saborosíssimo acompanhado por batata crocantes e vegetais ao azeite. Para este prato foram servidos 2 vinhos, o primeiro, o Ruca Malen Malbec 2013, com muito bom aroma a frutas negras, compota e chocolate. Sabor intenso, frutado, picante, tânico, forte e encorpado, muito bom e depois o Kinien Malbec 2011, o melhor vinho servido, aroma a violetas e frutas negras, sabor aveludado, apimentado, intenso, tâninos fortes e macios, muito saboroso.


  Para finalizar uma sobremesa incrível. O elemento mãos do homem que trouxe uma excepcional variedade de doces; de alcayota, uma espécie de abóbora, de membrillo (marmelo), queijo de cabra, doce de leite, de maçã ao malbec e sorvete de mel com laranja crocante. Todos muito bem produzidos, doces na medida certa, sem excessos e com muito sabor. Acompanhados com o espumante Ruca Malen Brut que deu frescor e lavou perfeitamente o paladar para cada nova garfada. Final adorável.



  O restaurante teve a gentileza de oferecer a cada um de nós, inclusive às crianças, um deste fantástico prato, independente de quem pediu o menu degustação.

  Ao encerrar a refeição concluimos que o menu degustação é uma experiência e tanto. O local é de cair o queixo, onde você come com uma vista arrebatadora das Cordilheiras ao fundo e os parreirais em primeiro plano. Muito requinte e bom gosto. É um pouco mais caro que os outros restaurantes de vinícolas locais, mas está sempre cheio e não é à toa. Um cardápio criativo, com muitos sabores, surpreendente, cativante e uma harmonização bastante correta feita por profissionais. Eu teria muito prazer em retornar em outra oportunidade.

Ao final deste fantástico almoço fizemos uma rápida visita às instalações da vinícola.




  Bodega Norton

  Esta vinícola foi fundada em 1895 e se tornou uma das maiores da Argentina. Em 1989 foi adquirida pelo austríaco Gernot Langes Swarovski. Em 1991, seu filho Michael Halstrick toma a frente da modernização e projeção da vinícola para o exterior, produzindo também vinhos de alta gama e até hoje gerencia pessoalmente a produção.



  As instalações da vinícolas são belíssimas, com os vinhedos próprios rodeando toda a produção e a estrutura impressiona.

  A visita começa com um passeio entre os vinhedos onde se explica a história da vinícola e fazemos uma parada para degustar o Rosé Mil Rosas. Vinho bem leve, suave, refrescante e um pouquinho aguado. Floral, frutado e adocicado. Final com leve amargor. Vinho para 87 pontos. A experiência ao ar livre e a paisagem fizeram deste um agradável momento.

  


  A seguir nos conduziram aos tanques de fermentação onde foi explicado o processo e nos foi oferecido degustar o malbec fermentado no tanque de inox. Interessante provar o vinho nesta etapa da produção. Percebe-se já  as frutas negras e vermelhas, bem como a azeitona negra, mas com taninos muito excessivos, rústico e excessivamente forte.


  Depois fomos à área dos barris de carvalho, onde tivemos contato com o processo em que o vinho é "domado". Nesta etapa também fomos convidados a provar o mesmo vinho que degustamos no processo anterior e percebe-se claramente a evolução. Aqui já se acentuam as características frutadas, aparece o sabor a couro, o vinho torna-se  mais aveludado, é menos agressivo, mais encorpado e agradável. 


  Ao final provamos o vinho já na garrafa, onde amenizou-se um pouco o frutado, surgiram mais notas de aromas, ganhou em sutileza. Na boca estava mais apurado, mais redondo. Foi uma experiência muito didática, quando sentimos na prática e na boca as diferentes etapas de produção do vinho.

  Ao final nos foi oferecido um muito bom  cosecha tardia, onde se destacou o sabor a frutas vermelhas frescas, principalmente morango e framboesa, fresco e doce.


 Após esta etapa fomos direcionados a uma espécie de "catacumba do vinho", uma  incrível área subterrânea, onde acondicionam garrafas e mantêm antigos rótulos em temperatura e umidade controlada em  um ambiente meio contemplativo, quase religioso. Ali fomos fazer o programa enólogo por um dia.


  Foi dada uma breve idéia teórica de como fazer um blend e nos ofereceram alguns recipientes e pipetas para misturar os varietais merlot, cabernet sauvignon e malbec oferecidos, para podermos produzir a nosso critério, a mistura mais apropriada. 



  Enquanto isso nossos filhos desenharam os rótulos. Ao final levamos o resultado da brincadeira para casa. Foi uma vivência muito agradável em um local especialíssimo.



  Para finalizar a visita à vinícola, fomos a seu restaurante, o La Vid. Este foi sem dúvida um dos restaurantes que mais nos agradou com excepcional relação custo benefício.

  Para começar nos foi oferecida uma belíssima entrada de torradas com carne e queijo de cabra e um espumante rosé. Muito saboroso.


  Depois provamos a empanada mendocina de carne, com chimichurri, que estava excelente.


  O prato principal foi um "ojo de bife" com batatas assadas ao creme de alho e azeite. Simplesmente incrível. Feito à perfeição.


 A soma de experiências foi bastante gratificante e surpreende uma vinícola tão grande oferecer uma visita  tão acolhedora, com tantas opções diferentes em um ambiente tão cálido e pessoal. Gostaria sem dúvida em repetir e ampliar a ótima vivência. O único ponto negativo foi que no restaurante cobraram taxa de rolha de um vinho que eu adquiri na própria vinícola, o que para mim não fez sentido, mas o valor não foi elevado e não comprometeu a excelente visita, até mesmo porque os preços cobrados em geral são muito convidativos. Valeu muito a pena conhecer e eu retornaria seguramente.


  Bodega Familia Zuccardi

  Vinícola criada em 1968 pelo Engenheiro Alberto Zuccardi, foi impulsionada em 1980 pelo filho José Alberto na implantação de novas técnicas para a produção de vinhos de qualidade, iniciada com a linha Santa Julia e a partir de 1990 com a produção de vinhos de alta gama, principalmente o Zuccardi Q.

  A Zuccardi, localiza-se no Vale do Maipu e possui belíssimas instalações que impressionam. Hoje é uma das principais vinícolas argentinas e uma das mais procuradas para a visitação, já que investiu muito nesta área, possui 2 excelentes restaurantes e oferece várias opções de atividades.



  Aqui iniciamos nossa atividade com uma aula de culinária para nossos filhos no belo restaurante Pan & Oliva. Lá, o chefe da cozinha conduziu com maestria as crianças, que começaram a manusear a massa, para depois a dividir em 3 partes, quando fizeram pão, pizza e sopaipillas, uma espécie de bolinhos fritos. 



O processo envolveu todas as etapas, desde a massa até a finalização.



  Ao final, o resultado ficou excelente, com deliciosos produtos e crianças muito felizes.



  Isto é louvável, porque, a princípio, ir a uma vinícola com crianças seria a certeza de pequenos enfadados, mal humorados e resmungões, mas a Zuccardi foi além e criou uma atividade muito interessante onde eles experimentam uma aula muito bacana e os pais podem curtir a visita em família sem se estressar, deixando todo o mundo contente. Se puder, no futuro, gostaria de experimentar também a aula de culinária para adultos, que também é oferecida no local.

  A seguir fomos ao outro restaurante que eles possuem, a Casa do Visitante, igualmente bem montado e com excelentes e belas instalações para o aproveitarmos o almoço. 



  Pedimos o chamado menu regional, que é baseado nos assados típicos argentinos.

  Iniciamos a refeição com excelentes empanadas de carne e de cebolas, preparadas no forno à lenha. Servido com o bom Torrontes Zuccardi Serie A, frutado e refrescante.


 Em seguida foram servidos excelentes legumes grelhados. Para acompanhar o Bonarda Zuccardi Serie A, um vinho com aroma aveludado a violetas e mirtilo e sabor a frutas negras, pão e acidez predominante. Muito bom.


  Em seguida foram oferecidas várias carnes na brasa a escolher, elegi a princípio o excelente "vacio", uma espécie de filé de costela. Acompanhada pelo Malbec Zuccardi Serie A, frutas negras, balsâmico, pouco aromático, sabor intenso e picante, encorpado e intenso. Agradou muito.

  Depois provamos as costelas de cabrito que estavam excelentes e o filé mignon ( lomo) que foi o ponto fraco, pois faltou sal e sabor. Acompanhou o Shiraz Zuccardi Serie A, com aroma a frutas vermelhas e baunilha, sabor picante, leve amargor, notas de alcaçuz e leve amargor. Boa harmonia com as costelas.


  Para finalizar foi servida a sobremesa, que consistia em uma deliciosa tortinha com frutas frescas, sorvete de pera e calda de vinho, harmonizada com o Santa Julia Tardio, que tinha aroma a passas e maçã e na boca era doce, frutado, refrescante, suave, notas de maçã, pera e maracujá. Muito bom.


   Um almoço muito compensador com excelentes sabores, bem harmonizado e com a tipicidade local.

Por fim conhecemos um pouco das instalações da Bodega, que é muito bem estruturada.




Impressões

  Ao final da viagem tivemos a nítida sensação de "quero mais". O povo local, em sua maioria, é bastante acolhedor. A cidade é muito agradável e com muitas opções de lazer. Muitas lojas de vinhos, azeites e produtos locais. Ótimos restaurantes e opções de hospedagem e as inúmeras vinícolas a serem exploradas. Sem contar a opção de passeios pelo Parque do Aconcágua, às Cordilheiras e outras, que desta vez não aproveitei.

  Conhecemos apenas uma pequena parte das vinícolas abertas à visitação, sendo que cada qual se especializa em um tipo de abordagem ao visitante e oferece diferentes serviços.  Várias têm restaurantes excelentes. Uma infinidade de vinhos das mais diversas variedades e qualidades e tudo a um preço bastante interessante. Ainda ficou muito a desbravar.

  Divido aqui um cartaz muito divertido da Dos Puntos, uma pequena e agradável lojinha de vinhos na Praça Independência, no Centro de Mendoza:



  Para os amantes do vinho é uma viagem imperdível, apenas lembrando que um bom planejamento, pesquisa e orientação maximizam a experiência. Para isso, nas desejadas viagens futuras, pretendo contar com o novo amigo mendocino, Leo, da Vendimia.


Viagem - Enoturismo em Santiago

 Nos primeiros dias de dezembro de 2014, tive o prazer de visitar as cidades de Mendoza e Santiago e consequentemente percorri algumas vinícolas próximas, onde vou dividir a experiência com os leitores.

  Vou separar esta postagem apenas para contar a experiência das vinícolas de Santiago, em outro post apresento a viagem de enoturismo em Mendoza.

Viagem a Santiago: 

  Em Santiago resumi minhas visitas a 3 vinícolas, todas no Vale de Casablanca.

  Localizado entre a Cordilheira dos Andes e o Oceano Pacífico, a Oeste de Santiago, possui um clima predominantemente frio, mas com forte amplitude térmica, influenciado pelas correntes oceânicas que provocam quase todas as manhãs uma forte neblina. Sofre bastante exposição ao sol. Possui solos pobres em matéria orgânica, principalmente de argila e areia e subsolo granítico. Somando todos os fatores produz vinhos de mais acentuada acidez, frescor, baixo teor alcoólico e muito potencial aromático. 

  Por esta razão, este Vale é considerado no Chile o mais apropriado às uvas brancas, especialmente ao Sauvignon Blanc e ao Chardonay. Também têm  muito bons resultados com o pinot noir. Mais recentemente shiraz, cabernet franc e malbec também estão sendo plantadas neste local e se adaptando muito bem.

  O pioneiro foi Pablo Morandé que em 1982, iniciou o plantio de uvas "brancas", porque encontrava semelhanças com o clima californiano e fez a aposta. Em 1986 iniciou a produzir as primeiras garrafas. Depois disso vários outros foram se instalando na região, que ainda se encontra em expansão e hoje é responsável pela produção de muitos bons vinhos.

Viña Casa del Bosque

  Esta foi nossa primeira visita e logo na chegada impressiona pela beleza do local e de suas instalações.


  Iniciamos fazendo a visita à adega e aos vinhedos, todos muito bem cuidados e tivemos as explicações mais básicas desde o cultivo à produção.



   Fui já sabendo da premiação que o Casas del Bosque Shiraz Gran Reserva 2012 tinha obtido na 12º Annual Wines of Chile Awards (AWoCA),  realizada em São Paulo, como o melhor vinho da exposição, porém eles não o tinham para degustar, mas depois foi servido na refeição e agradou muito. 

Fizemos a degustação destes rótulos:



   O primeiro degustado foi o Casas del Bosque Sauvignon Blanc Reserva, 2014

   Este exemplar, que não é de seus melhores sauvignons, tem aroma muito intenso a maracujá, maçã e limão. Na boca é suave, refrescante, mas sem grande sabor. Seria um vinho 87 ou 88 pontos.

   Depois provamos o Casas del Bosque Chardonay Reserva, 2013

   Da mesma linha que o anterior, também é bastante aromático, com notas a milho, amêndoas, mineral. Na boca notas a maçã e milho, mas sem grandes surpresas. Saboroso. Um vinho para 88 pontos

   A seguir serviram o Casas del Bosque Pinot Noir Grand Reserva 2013

  O aroma não me agradou muito, um pouco terroso, sem intensidade. No paladar, notas de champignon fresco, bem amadeirado, falltou maior equilíbrio. Vinho para 87 pontos.

O Casas del Bosque Shiraz Pequeñas Produciónes, 2012 veio a seguir

   O aroma não tinha muita intensidade, mas era bem marcado a azeitonas negras. No paladar novamente a presença das azeitonas negras, frutas negras e champignon fresco, muito saboroso, intenso. Muito bom vinho. Vinho para 90 pontos

   A pedidos nos serviram ao final o Gran Bosque, Reserva Privada, 2011, um cabernet sauvignon, produzido a partir de uvas da própria vinícola no Vale do Maipo.


     Aroma floral a violetas e frutas negras. No paladar é balsâmico, presença de frutas negras, chocolate e madeira. Os taninos estão um pouco excessivos. Muito boa persistência. Vinho para 90 pontos.

  Ao final fomos ao belíssimo restaurante Tanino que fica adjunto à sala de degustação para fazer o almoço harmonizado:



  Uma pré-entrada muito saborosa com um vinagrete  e pão frito com abóbora e pimenta acompanharam o sauvignon blanc reserva 2014. Depois a entrada composta por um ceviche misto muito saboroso, embora com pouco sal e acidez. Acompanhadas de queijo brie e doce de marmelo espetaculares. Torradas. Cebolas caramelizadas fantásticas. Pistache e chips de batatas doces. Agradou muito e equilibrou perfeitamente com o vinho servido.




   Em seguida o pré-prato principal foi um nhoque com mussarela fresca, manjericão, tomate cereja e pesto. Saboroso, embora um pouco trivial. A harmonização ocorreu com o pinot noir grand reserva 2013, que na degustação já não havia agradado tanto e aqui também não foi diferente. Talvez a presença de cogumelos frescos e azeitonas negras no nhoque salvassem o vinho. Não foi ruim, mas faltou uma melhor harmonização.



   O prato principal foi um bife de filé mignon com pouco sal, pimentões e pimenta do reino. Corrigindo o sal ficou bom, mas faltou um molhinho... Também acompanhou batatas crocantes e queijo de cabra. A harmonização foi feita sim com o premiado Shiraz Grand Reserva 2012 e este  agradou em cheio, harmonizando muito bem com a carne.

   Neste eu fico devendo as fotos.

   Na sobremesa foi servido um bolo de chocolate crocante com mousse de maracujá com morangos e mirtilos. Este foi simplesmente espetacular, uma mistura de sabores e de texturas, que fez dela o melhor prato entre todos apresentados. A harmonização ficou por conta do Riesling Late Harvest, que era bom, mas não combinou perfeitamente com a sobremesa porque era excessivamente doce.



A experiência na Vinícola foi agradável e valeu muito a pena. O almoço foi agradável e os pequenos deslizes não tiraram o prazer da refeição harmonizada. O local é de se tirar o chapéu, pela beleza e o cuidado de todas as instalações.

Viña Matetic

  A próxima visita foi à Vinícola Matetic. Como eu já estava de barriga cheia e as crianças cansadas não fiz o tour pelos vinhedos mais longo e apenas conhecemos a parte de produção e guarda, além do que degustei a linha EQ de vinhos.

  A vinícola tem uma arquitetura incrível, diferente de todas que viemos a conhecer. A parte onde fazem a guarda dos barris é simplesmente fantástica com paredes de pedra para manter a temperatura e umidade controladas, iluminação especial e desenho magnífico.




     A produção segue os princípios biodinâmicos.

     O atendimento é muito bom, a pessoa que nos guiou mostrou muita paciência e boa vontade.



     A degustação foi a seguinte:


  Matetic EQ Sauvignon Blanc 2013

  Aroma sutil e sabor intenso a maracujá. Intenso, forte, picante. Um vinho para 88 ou 89 pontos

  Matetic EQ Chardonay 2011

  Aroma lácteo, querosene e maracujá. Com forte amargor, intenso, falta um maior equilíbrio para superar a nota. Para 88 pontos.

  Matetic EQ Syrah, 2011.

  Aroma balsâmico, não muito agradável. Sabor amargo, forte, intenso, selvagem. Talvez com alguns anos seja mais domado, mas não acredito muito. Vinho 87

  Matetic EQ Pinot Noir 2012

  Este sim é disparado o melhor dos quatro. Aroma a violetas, frutas negras, azeitonas negras. No paladar é intenso, apimentado, encorpado, saboroso, elegante. Facilmente chega a 92 ou 93 pontos. Grande vinho.

  A visita que realizamos foi proveitosa e interessante, muito embora os tours mais longos eu não tenha realizado, saí bastante satisfeito em conhecê-la.

Viña Emiliana

  A Emiliana é uma vinícola que vale muito conhecer. Seguidora dos princípios orgânicos e biodinâmicos é de extrema beleza e é de muito fácil acesso, ficando às margens da Rodovia que liga Santiago à Viña del Mar.

  A sede é belíssima e os parreirais parecem um jardim, onde são plantadas flores e ervas, além da presença de alguns animais, como galinhas e alpacas, tudo para seguir a filosofia adotada.





   Degustei alguns rótulos quando eles ofereceram alguns queijos e chocolates distintos para a prova:



   O primeiro vinho foi o Novas Gran Reserva Sauvignon Blanc, 2014


  Um vinho leve, suave, sem muita intensidade, mas com muito frescor. Bom para tomar em dias quentes. Descompromissado. Vinho para 87 pontos

  A seguir provamos o Adobe Reserva Chardonay, 2013


  Aroma suave e típico da cepa. Leve amargor. Bom vinho, mas o que realmente chamou a atenção foi o fantástico queijo com manjericão. Para o vinho nota 88, Para o queijo nota 95.

  O vinho provado a seguir foi o Signos de Origem, Cabernet Sauvignon, 2010, Vale do Maipo



  Aroma muito agradável a frutas negras com destaque para amoras. No paladar é frutado, tânico e forte. Agradou. Vinho de 89 ou 90 pontos

   Depois degustamos o Coyam, 2011, Vale do Colchagua


  Eu já tinha provado este vinho com a Confraria na safra 2005 e demos 94 pontos. Esta safra continua explêndida e vai evoluir mais com toda certeza. Blend com predomínio de shiraz e carmenere.

  Aroma a frutas negras destacando mirtilo e cereja. Sabor intenso e persistente, amadeirado, potente e macio. Um agrado ao paladar. Vinho 92 ou 93, mas já o elenquei como um de meus favoritos.

  Por fim e a pedidos nos foi servido o Gê, 2011, do Vale do Colchagua, o vinho mais elaborado e mais caro da vinícola.


  Vinho muito bom, frutas negras e baunilha muito intensas no nariz. No paladar forte presença dos taninos, mas bem macios, potente, notas a chocolate meio amargo. Excelente vinho para 93 pontos.

  A visita à Emiliana foi muito boa e agradável, pois além da beleza do local, nos agraciamos com muito bons vinhos.

  Esta foi a experiência no Chile e depois farei a descrição da experiência com os vinhos e as vinícolas de Mendoza.